Doutor meu filho está sempre doente, tem algum remédio para imunidade?
Qual pediatra nunca ouviu essa perguntar em seu consultório?
Mas será que existe uma fórmula mágica para aumentar a imunidade do seu filho?
Primeiro devemos entender o que é normal para as crianças conforme a faixa etária:
| Faixa etária | Número médio de infecções virais por ano | Observações |
|---|---|---|
| 0 a 1 ano (lactentes) | 6 a 12 episódios | Sistema imunológico imaturo; contato maior com cuidadores e ambientes fechados. |
| 1 a 3 anos (primeira infância) | 8 a 12 episódios | Fase em que muitas crianças entram na creche; alta exposição a novos vírus. |
| 4 a 6 anos (pré-escolar) | 6 a 8 episódios | Sistema imunológico em amadurecimento; início de maior resistência. |
| 7 a 12 anos (escolar) | 3 a 6 episódios | Menor frequência, mas ainda comum durante surtos sazonais. |
| Adolescentes | 2 a 4 episódios | Frequência próxima à dos adultos. |
Algumas crianças tendem a ter mais infecções que o normal, podemos destacar como fatores de risco:
Irmãos mais velhos em escola, creche precoce, alergia não tratada, alterações anatômicas como adenoide aumentada, desvio de septo, doenças genéticas e por último e mais raramente imunodeficiência.
Quais são os remédios mais comumente ofertados no mercado?
Os imunoestimulantes têm ganhado crescente atenção na pediatria, especialmente como uma abordagem terapêutica para reduzir a frequência de infecções respiratórias recorrentes em crianças. No entanto, é fundamental que sua indicação seja baseada em evidências científicas sólidas, garantindo eficácia e segurança no uso. Este texto explora os principais imunoestimulantes disponíveis no mercado e avalia o que a literatura científica diz sobre sua eficácia.
O que são imunoestimulantes?
Imunoestimulantes são substâncias que estimulam ou modulam o sistema imunológico, com o objetivo de melhorar a resposta imunológica do organismo a infecções. Eles podem ser classificados em diferentes categorias, incluindo agentes bacterianos, compostos sintéticos, extratos vegetais e vitaminas/minerais. Na pediatria, seu uso é mais frequentemente associado à prevenção de infecções respiratórias em crianças com sistema imunológico ainda em desenvolvimento.
Imunoestimulantes Disponíveis
Agentes Bacterianos
Os agentes bacterianos incluem preparados que contêm fragmentos de bactérias inativadas ou lisadas, projetados para estimular uma resposta imunológica. Entre os mais conhecidos estão:
OM-85 (Broncho-Vaxom®): Este é um lisado bacteriano obtido de diferentes espécies bacterianas. É amplamente utilizado para a prevenção de infecções respiratórias bacteriana recorrente e possui um número significativo de estudos clínicos.
Ismigen®: Similar ao OM-85, é outro lisado bacteriano utilizado como imunomodulador em infecções respiratórias.
Compostos Sintéticos
Algumas formulações sintéticas, como o levamisol, têm sido exploradas por suas propriedades imunomoduladoras, mas seu uso tem sido limitado devido a evidências inconsistentes e potenciais efeitos adversos.
Extratos Vegetais
Produtos à base de plantas, como o extrato de Echinacea, são amplamente comercializados como imunoestimulantes naturais. No entanto, a literatura científica ainda debate a eficácia dessas substâncias, e os estudos apresentam resultados conflitantes.
Vitaminas e Minerais
Suplementos de vitaminas e minerais, incluindo vitamina C, vitamina D e zinco, também são frequentemente utilizados como coadjuvantes para melhorar a imunidade. Embora sejam essenciais para a função imunológica geral, sua eficácia como imunoestimulantes específicos ainda requer mais evidências robustas.
Evidências Científicas
Pelargonium sidoides: Fitoterápico, com efeito na replicação viral, alguns estudos sugerem redução do tempo de sintomas quando iniciado nas primeiras 72 horas, nenhuma sociedade recomenda fortemente, estudos continuam em andamento.
Betaglucana: Derivado do fungo, estimula o sistema de defesa e reduz a quantidade de infecções, deve ser usado de forma continua por 3 meses, nenhuma sociedade médica recomenda fortemente o uso, embora alguns estudos sugiram melhora na taxa de infecções.
OM-85 (Broncho-Vaxom®)
Vários estudos randomizados e revisões sistemáticas demonstram que o OM-85 pode reduzir a frequência e a gravidade de infecções respiratórias em crianças. Um meta-análise recente destacou que este lisado bacteriano é eficaz e bem tolerado, sendo uma opção recomendada para crianças com histórico de infecções bacterianas recorrentes.
Echinacea
Embora amplamente popular, a Echinacea apresenta resultados conflitantes em estudos clínicos. Algumas pesquisas sugerem um leve benefício na redução da duração das infecções respiratórias, enquanto outras não encontram eficácia significativa. Além disso, a ausência de padronização nas formulações dificulta conclusões definitivas.
Vitamina D
A deficiência de vitamina D tem sido associada a um aumento no risco de infecções respiratórias. Estudos sugerem que a suplementação pode ser benéfica para crianças com níveis insuficientes, mas não há evidências suficientes para apoiar seu uso como imunoestimulante em crianças saudáveis.
Vitamina C
Amplamente defendido pela sociedade como antioxidante e auxiliar na imunidade, diversos estudos demonstram que não há diferença em seu uso para pacientes sem deficiência dessa vitamina, a absorção é reduzida conforme maior ofertar, assim o uso não deve ser realizado a menos que o paciente tenha deficiência dessa vitamina. Nenhum estudo comprova a redução do tempo de sintomas ou complicações, nenhuma sociedade médica recomenda seu uso para resfriados.
Zinco
O zinco atua diretamente na maturação e funcionamento das células de defesa, otimizando a imunidade, seu uso deve ser reservado para pacientes com deficiência ou infecções como diarreia, pneumonia. Os estudos evidenciam melhora nos casos infecciosos, podendo ser utilizado como tratamento complementar e preventivo nos casos de deficiência ou baixa ingesta.
Levamisol
Embora tenha mostrado algum potencial em estudos mais antigos, o levamisol está associado a efeitos adversos que limitam seu uso, e a literatura recente não apoia sua indicação rotineira como imunoestimulante pediátrico.
Enfim, a indústria farmacêutica conhece todos os pontos fracos de nós pais, sempre queremos fazer algo a mais para que nosso filhos sofram menos, mas a verdade é que poucos medicamentos têm comprovação cientifica robusta, diante dos fatos devemos nos manter calmos diante do amadurecimento do sistema imunológico dos nossos filhos e estimular o que realmente funciona: dieta equilibrada, sono adequado, atividade física, carinho e amor para nossos filhos.
Fontes:
https://residenciapediatrica.com.br/detalhes/176/imunoestimulantes-na-prevencao-de-infeccoes-respiratorias-em-idade-pediatrica#:~:text=A%20evid%C3%AAncia%20dispon%C3%ADvel%20sobre%20a%20efic%C3%A1cia%20dos%20imunoestimulantes%20na%20preven%C3%A7%C3%A3o,respirat%C3%B3rias%20em%20crian%C3%A7as%20com%20IRR.
https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias-new/cuidados-com-a-saude/imunidade-nas-criancas/
https://www.health.harvard.edu/blog/boosting-your-childs-immune-system-202110122614
Dr. Túlio Alonso João – Pediatra, Especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria – RQE: 85275.
Atendimentos em Botafogo e Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.