O que é proteinúria em crianças?
Proteinúria é a presença anormal de proteínas na urina, um achado que pode indicar problemas renais ou sistêmicos em crianças. Um dos sinais clássicos que chama atenção das famílias é a urina espumando, que muitas vezes motiva a busca por avaliação médica. A identificação precoce e o manejo adequado da proteinúria são fundamentais para prevenir complicações e garantir a saúde infantil.
Causas
A proteinúria transitória é relativamente comum em crianças, especialmente em situações de febre, exercício intenso ou desidratação, com uma prevalência que pode chegar a até 10% em rastreamentos populacionais. A proteinúria persistente, por outro lado, é menos frequente, sendo encontrada em aproximadamente 0,1% a 0,5% da população pediátrica.
A idade de maior incidência vai dos 2 aos 12 anos, com discreto predomínio no sexo masculino. A maioria dos casos detectados em escolas é assintomática, reforçando a importância da triagem urinária em determinados contextos.
Causas da proteinúria em crianças
A proteinúria pode ser classificada em transitória, ortostática e persistente, cada uma com causas distintas:
Proteinúria transitória: geralmente associada a febre, exercício físico vigoroso, estresse emocional ou desidratação. O quadro se resolve espontaneamente com a eliminação do fator desencadeante.
Proteinúria ortostática: Caracteriza-se pela presença de proteína na urina apenas quando a criança está em pé, sendo a causa mais comum de proteinúria persistente em adolescentes. Seu mecanismo exato ainda não é totalmente compreendido, mas tem caráter benigno.
Proteinúria persistente: pode indicar doença renal primária, como glomerulopatias (por exemplo, síndrome nefrótica, glomerulonefrite), ou secundária a condições sistêmicas como lúpus eritematoso sistêmico, infecções crônicas, diabetes mellitus, entre outras.
Sintomas: Quando suspeitar de proteinúria?
O sintoma mais frequentemente notado pelas famílias é a urina espumando. A espuma persistente após urinar pode indicar a presença de proteínas, especialmente se não houver outros motivos aparentes, como uso de produtos de limpeza no vaso sanitário. Outros sintomas associados, que podem sugerir gravidade ou doença renal subjacente, incluem:
Edema (inchaço), especialmente ao redor dos olhos ou nos membros inferiores
Pressão alta
Sangue na urina
Fadiga, palidez ou perda de apetite
Redução do volume urinário
O que fazer?
A abordagem inicial deve considerar a história clínica detalhada, incluindo duração, fatores desencadeantes e sintomas associados. Exames complementares como:
Exame de urina (EAS)
É o exame fundamental para detectar a presença e estimar a quantidade de proteínas. Deve ser realizado preferencialmente com a primeira urina da manhã, para evitar falsos positivos por proteinúria ortostática. A presença de urina espumando reforça a necessidade do exame laboratorial.
Prova ortostática
Em casos de proteinúria persistente sem outros sintomas, realiza-se a coleta de duas amostras de urina: uma após repouso noturno (em decúbito) e outra após atividade durante o dia. Proteinúria presente apenas na amostra diurna sugere proteinúria ortostática, de bom prognóstico.
Dosagem de proteína urinária
A quantificação pode ser feita por relação proteína/creatinina em amostra isolada de urina, facilitando o diagnóstico e o acompanhamento.
Exames mais aprofundados devem ser guiados conforme a suspeita clínica sempre!
De acordo com a história clínica e o exame físico,podem ser solicitados exames de sangue (função renal, eletrólitos, albumina, lipidograma, sorologias), ultrassonografia renal e, em casos selecionados, biópsia renal.
Tratamento
Proteinúria transitória e ortostática
Geralmente não requerem tratamento específico, apenas acompanhamento periódico com repetição de exames. Não há risco de progressão para doença renal crônica em casos isolados.
Glomerulopatias (Síndrome nefrótica e glomerulonefrite)
São as principais causas de proteinúria persistente significativa na infância:
Síndrome nefrótica: O tratamento inclui corticoides, restrição de sal, controle de infecções intercorrentes e, em casos resistentes, imunossupressores.
Glomerulonefrite: O manejo depende da causa (por exemplo, pós-estreptocócica, autoimune) e pode incluir antibióticos, anti-hipertensivos e imunossupressores, conforme o caso.
Doenças sistêmicas
Doenças como lúpus, diabetes e infecções crônicas exigem tratamento direcionado para a condição de base, além do acompanhamento nefrológico para evitar lesão renal.
Importância do acompanhamento médico
Nenhum caso de urina espumando em crianças deve ser negligenciado. A avaliação pediátrica é fundamental para identificar possíveis causas e iniciar o tratamento adequado. O acompanhamento periódico ajuda a prevenir complicações e a garantir desenvolvimento saudável.
Observe se a criança apresenta urina espumando de forma persistente, ou outros sintomas como inchaço ou diminuição do volume urinário.
Procure atendimento pediátrico sempre que notar alterações na urina ou sintomas associados.
Evite automedicação e siga sempre as orientações de profissionais de saúde.
A urina espumando é um sinal de alerta que pode indicar proteinúria e possíveis doenças renais na infância. O diagnóstico precoce, aliado ao tratamento adequado das causas, é essencial para preservar a saúde renal das crianças. Conte sempre com o acompanhamento do pediatra e, se indicado, do nefrologista pediátrico para garantir o melhor cuidado.
Fontes:
https://docs.bvsalud.org/biblioref/sms-sp/2012/sms-5255/sms-5255-2684.pdf
https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22484c-DC_-_DoenRenal_Cronica-_Diag_e_Prevencao.pdf
https://www.spsp.org.br/site/asp/recomendacoes/Rec88_Nefro.pdf
Dr. Túlio Alonso João – Pediatra, Especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria – RQE: 85275.