A birra, também chamada de “crise de temperamento”, é um comportamento comum e esperado no desenvolvimento infantil, especialmente entre 1 e 4 aanos Apesar de ser desafiadora para pais e cuidadores, ela tem base fisiológica e está ligada à maturação cerebral.


Causa fisiológica

A birra é resultado de uma resposta emocional intensa desencadeada por frustração, cansaço, fome, excesso de estímulos ou necessidade não atendida.
Do ponto de vista fisiológico, a criança apresenta ativação do sistema límbico, região responsável pelas emoções, com descarga de hormônios do estresse como cortisol e adrenalina.
Nessa fase, há imaturidade no controle inibitório — a criança sente, mas ainda não consegue regular a emoção de forma racional.


Alterações anatômicas cerebrais que favorecem a birra

  • Córtex pré-frontal (responsável pelo autocontrole e tomada de decisão): ainda em desenvolvimento até a vida adulta, com imaturidade acentuada nos primeiros anos.

  • Amígdala cerebral (núcleo do sistema límbico): hiper-reativa, amplificando reações de medo, raiva ou frustração.

  • Conexões pré-frontais-límbicas: incompletas, dificultando a comunicação entre “razão” e “emoção”.

  • Baixa mielinização das vias nervosas de autorregulação emocional nessa faixa etária.


Quando Inicia e quando Termina

  • Início: geralmente entre 12 e 18 meses, quando a criança começa a ganhar autonomia (andar, falar) mas ainda não consegue expressar plenamente suas necessidades.

  • Pico: entre 2 e 3 anos, fase conhecida como “terrible twos”.

  • Fim: tende a reduzir significativamente até os 4 a 5 anos, quando há maior maturidade linguística e cerebral, embora possa persistir em crianças com dificuldades emocionais ou transtornos do desenvolvimento.


Sintomas e características das Birras

  • Choro intenso e gritos

  • Queda no chão ou movimentos bruscos

  • Recusar contato ou ajuda

  • Arremessar objetos

  • Chutar, bater ou morder

  • Expressões faciais de raiva ou frustração

  • Em casos mais intensos, prender a respiração por alguns segundos


Como lidar com as birras

  1. Manter a calma – a reação do adulto influencia diretamente a intensidade e a duração da crise.

  2. Segurança em primeiro lugar – retirar objetos perigosos e proteger a criança de se machucar.

  3. Evitar reforço negativo – não ceder imediatamente para parar o choro, pois isso ensina que a birra é eficaz para conseguir algo.

  4. Oferecer alternativas – dar opções simples (“Você quer o copo azul ou o verde?”) ajuda a reduzir a frustração.

  5. Validar o sentimento – reconhecer a emoção (“Eu sei que você está bravo porque queria brincar mais”) ajuda a criança a se sentir compreendida.

  6. Ensinar autorregulação – fora do momento da birra, mostrar técnicas como respiração profunda ou contagem.

  7. Rotina previsível – sono, alimentação e momentos de descanso regulares reduzem as chances de crises.


Maneiras de reduzir a chance de birra

  • Antecipar necessidades – garantir que a criança esteja alimentada, descansada e em ambiente seguro antes de atividades desafiadoras.

  • Avisar sobre transições – avisar alguns minutos antes de mudar de atividade (“Em cinco minutos vamos guardar os brinquedos”).

  • Oferecer pequenas escolhas – dar opções simples para promover senso de controle.

  • Estabelecer rotinas claras – previsibilidade dá segurança e reduz frustração.

  • Estimular a comunicação – incentivar que a criança use palavras ou gestos para expressar necessidades.

  • Modelar o comportamento – mostrar como lidar com frustrações de forma calma e respeitosa.

  • Reduzir excesso de estímulos – evitar ambientes muito barulhentos ou cheios quando a criança está cansada.

  • Reforçar comportamentos positivos – elogiar e valorizar atitudes calmas e colaborativas.


Quando procurar ajuda profissional

 

Se as birras forem muito frequentes, persistirem após os 5 anos, estiverem associadas a autoagressão, agressão grave a outros ou impactarem fortemente a vida familiar e escolar, é recomendada avaliação com pediatra ou especialista em comportamento infantil.

Fontes

https://publications.aap.org/aapbooks/book/672/chapter-abstract/8113239/Temper-Tantrums?redirectedFrom=fulltext

https://publications.aap.org/pediatriccare/article-abstract/doi/10.1542/aap.ppcqr.396460/173/Temper-Tantrums-and-Breath-Holding-Spells?redirectedFrom=fulltext

https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/aprenda-a-lidar-com-crises-e-birras-dos-filhos-nos-terrible-twos/


Dr. Túlio Alonso João – Pediatra, Especialista pela Sociedade Brasileira de Pediatria – RQE: 85275. 
 
Atendimentos – Rua Visconde Ouro Preto, n°5 – 5 Andar, Botafogo, Rio de Janeiro.