Baixa estatura.

A baixa estatura na infância é uma preocupação recorrente nos consultórios médicos, em grande parte devido ao ideal de alta estatura como referência de beleza, influenciado pelo processo de colonização europeia.

Cabe a nós, Pediatras, distinguir se realmente há uma causa patológica para a baixa estatura ou se ela está dentro do alvo genético familiar.

O alvo genético é um cálculo simples que nos auxilia a prever a estatura final da criança.

Quando nos deparamos com uma criança que mantém uma velocidade adequada de crescimento para a idade e está dentro do alvo genético familiar, nenhum exame é necessário, pois isso é compatível com baixa estatura familiar, que corresponde a 90% dos casos de baixa estatura.

É comum ocorrer frustração em algumas famílias ao ouvir que seu filho provavelmente terá uma baixa estatura. Muitos perguntam se não existe nenhum tratamento para melhorar a estatura final ou se realmente não é necessário solicitar mais exames.

A investigação com exames laboratoriais e de imagem deve ser reservada para pacientes que apresentam redução na velocidade de crescimento e estão muito abaixo de seu alvo genético.

É importante destacar que o uso de hormônio de crescimento não está indicado em casos de baixa estatura familiar, embora infelizmente isso não seja observado na prática.

FOME OCULTA E INSEGURANÇA ALIMENTAR

A fome oculta é hoje o distúrbio nutricional mais prevalente no mundo de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

O processo de transição nutricional, que ocorreu em muitos países nos últimos 20 anos, caracterizado pela inversão do padrão nutricional populacional de desnutrição e magreza para sobrepeso e obesidade, influenciada principalmente pelo aumento da dieta industrializada e fatores socioculturais.

Dados coletados pelo IBGE demonstram que a obesidade infantil praticamente dobrou em 20 anos.

Ao contrário do que muitos pensam, a criança acima do peso não está sempre bem nutrida. Estudos recentes revelaram que essa população sofre com deficiência de um ou mais micronutrientes. A dieta industrializada, com abuso de ultraprocessados, carece de micronutrientes e vitaminas, ofertando alimentos compostos em sua maioria de gorduras, sal e carboidratos.

Por a fome oculta não apresentar sintomas na maioria dos casos, o diagnostico baseia-se, principalmente, no histórico alimentar da criança associado a exames laboratoriais. O tratamento deve ser realizado com reposição adequada das vitaminas deficientes e reeducação alimentar de toda a família.

FONTES:

Organização Mundial da Saúde – https://www.who.int/

IBGE – https://www.ibge.gov.br/

Método Mãe Canguru

Método canguru, você já ouviu falar?

O método canguru consiste em manter o recém-nascido em contato pele a pele com mãe/pai.

A metodologia iniciou em 1979 na Colômbia, os médicos Dr.Rey  Sanabria e Dr. Hector Martinez diante das dificuldades devido a carência de recursos dos serviços públicos na Colômbia assim como em toda América Latina, não dispunham de incubadoras suficientes para manter os recém-nascidos prematuros aquecidos, favorecendo complicações decorrentes de hipotermia. Sem opção os médicos mantinham os bebês em contato com o corpo de sua mãe, conforme os anos foram passando, eles observaram uma redução drástica na mortalidade desses bebês, além de:

  • Maior ganho de peso.
  • Estímulo sensorial adequado.
  • Redução de infecções.
  • Redução do estresse ambiental.
  • Melhor controle térmico.
  • Maior frequência, duração do aleitamento materno.

No Brasil, o método teve início em 1992 e hoje é amplamente difundido, especialmente nos Hospitais Amigos da Criança.

Os benefícios do método não são restritos apenas a bebês prematuros, sendo assim, qualquer mãe/pai pode aplicar o método com o uso do Sling.

Você já ouviu falar de PREP ou PEP?

O HIV está entrando em uma nova fase em países desenvolvidos, com melhor acesso ao pré-natal e com o sucesso da terapia antirretroviral em gestantes e bebês expostos. A taxa de transmissão vertical (mãe-filho) vem caindo progressivamente, reduzindo significativamente o número de novos casos. Diante desse novo cenário, a principal via de infecção é o ato sexual.

Entre 2007 e 2017, a notificação de novos casos entre jovens de 15 a 24 anos aumentou 400%. Mas por que, diante da era digital, com abundância de informações, ainda temos esse aumento de novos casos entre os jovens?

O HIV, assim como a relação sexual e a sexualidade do adolescente, sempre foi um tabu na sociedade. Mesmo nos dias de hoje, existem pais que não debatem o assunto diretamente com seus filhos, evitam conversar sobre a prática sexual e os métodos preventivos. Na mesma linha, infelizmente, muitas escolas ainda evitam tocar no assunto e prejudicam cada vez mais a chegada de informações precisas aos adolescentes e familiares.

Muitos de nós não somos familiarizados com termos como PREP e PEP, muito menos sabemos que são oferecidos no SUS. É claro que o uso de preservativo sempre foi e sempre será a medida mais eficaz na prevenção, não só do HIV como também de outras doenças sexualmente transmissíveis.

A impulsividade é uma característica presente em muitos adolescentes, e acidentes podem acontecer. E quando esses acontecem, muitos jovens não sabem como agir ou compartilhar a situação, ficando vulneráveis à infecção.

Mas quando devemos usar o PREP (profilaxia pré-exposição) ou o PEP (profilaxia pós-exposição)?

💊 O PEP é indicado em casos de rompimento de preservativo quando não se pode realizar o teste rápido no parceiro ou quando o parceiro é sabidamente portador do HIV, e deve ser utilizado no prazo máximo de até 72 horas após o ocorrido e durante 28 dias.

💊 O PREP é indicado para populações de alto risco, tais como: homossexuais, transsexuais e pessoas com parceiros sexuais infectados. Ele pode reduzir em até 44% a chance de transmissão em casos de rompimento de preservativo, e deve-se ingerir o medicamento preventivamente todos os dias.

#dezembrovermelho

Morte súbita do bebê.

A morte súbita do bebê é uma das principais causas de morte infantil no mundo, ocorrendo principalmente entre 2 e 4 meses de idade, podendo ocorrer até o primeiro ano de vida. Essas mortes acontecem em bebês previamente saudáveis, sem causa aparente, e geralmente ocorrem no berço ou em cama compartilhada com os pais.

Alguns estudos sugerem que uma das principais causas é a asfixia durante o sono, mas mais pesquisas ainda precisam ser realizadas para compreender completamente os fatores envolvidos.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Academia Americana de Pediatria, alguns fatores de risco foram associados à ocorrência dessas mortes, incluindo:

👶 Dormir de barriga para baixo/posição de bruços. 🚬 Tabagismo familiar. 🛌 Dormir na mesma cama dos pais. 🛏️ Uso de colchão facilmente depressível ou de molas. 🐻 Uso de cobertor, travesseiros e objetos no berço. 🧐 Berço sem espaçamento adequado entre as grades.

Diante do grande número de casos, a Academia Americana de Pediatria iniciou uma campanha em 1994 pedindo que os pediatras sempre orientem os familiares sobre os cuidados durante o sono. O ato de colocar o bebê para dormir de barriga para cima teve resultados impactantes, reduzindo drasticamente a mortalidade.

⚠️ Então não se esqueçam, na hora de dormir, SEMPRE DE BARRIGA PARA CIMA.

#safetosleep #backtosleep #pediatria #sonoseguro

Microbiota Intestinal.

A microbiota intestinal é, talvez, um dos temas mais debatidos e explorados no meio científico. Ano após ano, pesquisas demonstram a relação entre a disbiose intestinal (desequilíbrio da flora intestinal) e alterações em nosso organismo, como obesidade, síndrome metabólica, depressão, doença inflamatória intestinal, desordens imunológicas e asma.

Existem diversos fatores que influenciam positivamente na formação de uma microbiota intestinal saudável:

  • Evitar o uso indiscriminado de antibióticos durante a gestação.
  • Seguir uma dieta saudável e balanceada durante a gestação.
  • Optar pelo parto vaginal.
  • Promover o aleitamento materno até os 2 anos de idade ou mais.
  • Manter uma dieta balanceada com alimentos naturais, evitando comidas industrializadas, principalmente durante os primeiros 1000 dias de vida.
  • Evitar o uso indiscriminado de antibióticos nos primeiros 2 anos de vida.
  • Evitar o uso prolongado de antiácidos.
  • Incluir alimentos prebióticos na alimentação, como aveia, trigo, banana, tomate, gergelim, linhaça, feijão e soja.
  • Após o primeiro ano, incluir alimentos probióticos na dieta, como iogurte, leite fermentado, coalhada, kefir de leite ou água, e kombucha com sabor.
  • Permitir que seu filho brinque descalço e coma com as mãos em algumas ocasiões. Parece estranho, mas crianças que vivem em ambientes extremamente limpos e assépticos podem ter alterações em sua flora intestinal.

A prevenção é sempre o melhor remédio. Tente mudar os seus hábitos e os de seu filho para promover a formação de uma melhor microbiota intestinal e colha os benefícios ao longo da vida.

A importância da vacinação durante a gestação.

De acordo com a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e o Ministério da Saúde, a taxa de vacinação entre as gestantes vem caindo anualmente. No ano de 2018, a cobertura vacinal para Influenza ficou em 84% e para Coqueluche, Tétano e Difteria em 62%.

A vacinação durante a gestação não protege apenas a mãe, mas também o futuro bebê por um longo período. Os anticorpos produzidos após o processo de vacinação são passados para o feto através da placenta e são secretados no leite materno, protegendo o bebê contra doenças potencialmente graves, como Influenza (Gripe) e Coqueluche.

É importante ressaltar que a vacina contra Coqueluche só pode ser administrada após os 2 meses de vida e a vacina da Influenza (Gripe) aos 6 meses. Sendo assim, caso a mãe não receba a vacina, seu filho pode ficar vulnerável durante todo esse período.

Informe-se com seu Obstetra em relação às vacinas e siga as orientações, todas as vacinas recomendadas às gestantes são seguras e não causam danos ao bebê.

Não acredite em fake news que costumam circular em grupos de redes sociais. Confie no seu médico e proteja seu filho. A família não deve ficar fora dessa e deve receber as vacinas DTPa e Influenza para evitar contato com os vírus e expor a criança a uma alta carga viral.

Fontes:

https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2022/11/saiba-quais-vacinas-devem-ser-administradas-durante-a-gestacao

https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-gestante.pdf


Teoria dos sabores

O primeiro passo para uma boa alimentação infantil, ao contrário do que muitos pensam, inicia a partir da 17ª semana gestacional e não no período da introdução alimentar.

Nesse período, os receptores olfatórios e do paladar já estão em desenvolvimento no feto, e os alimentos ingeridos pela mãe durante a gestação inundam o líquido amniótico com sabores e cheiros, que são deglutidos pelo feto e criam memória alimentar.

Um estudo realizado na Universidade da Philadelphia pela Dra. Julie A. Mennella recrutou 100 gestantes, metade delas ingeriu um copo de suco de cenoura por dia e a outra metade um copo de suco de laranja por dia, durante toda a gestação. As crianças foram acompanhadas até o início da introdução alimentar, e na primeira papa foi ofertada cenoura. O resultado mostrou que 87% das crianças cujas mães ingeriram suco de cenoura na gestação simplesmente devoraram a papa.

Isso reforça cada vez mais a teoria dos “1000 dias”, que destaca a importância de uma alimentação saudável durante a gestação e seus reflexos a longo prazo na saúde da criança. Por isso, é importante abusar dos alimentos saudáveis e temperos durante a gravidez e evitar alimentos industrializados, criando assim uma memória alimentar positiva que facilitará todo o processo de introdução alimentar, resultando em benefícios ao longo de toda a vida do seu filho.

 

Retorno às aulas e COVID 19

As orientações divulgadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pela Sociedade Paulista de Pediatria são importantes para garantir um retorno seguro às atividades escolares em meio à pandemia da COVID-19. É essencial que todas as partes envolvidas – famílias, escolas e funcionários – estejam cientes dos riscos e benefícios desse retorno e tomem as medidas necessárias para proteger a saúde das crianças, docentes e funcionários.

Algumas das orientações incluem:

  • A escola deve estar bem estruturada e com funcionários treinados para identificar sinais da doença, cuidados com as crianças e medidas preventivas.
  • Horários de entrada, saída e intervalos devem ser organizados de forma a evitar aglomerações.
  • Turmas podem ser intercaladas entre aulas presenciais e à distância para reduzir a densidade de pessoas na escola.
  • Preferencialmente, as aulas devem ocorrer em ambientes externos, e, quando em sala de aula, janelas e portas devem ser mantidas abertas para melhor circulação de ar.
  • É importante garantir locais de fácil acesso para lavagem das mãos e disponibilizar álcool 70%.
  • Manipulação adequada de alimentos durante a merenda escolar é fundamental.
  • O uso de máscaras é essencial para crianças acima de 2 anos, e face shield também pode ser utilizado se possível.
  • Famílias com casos suspeitos devem afastar seus filhos e aguardar o resultado do exame ou cumprir o período de isolamento de 14 dias caso não seja testado.
  • Crianças do grupo de risco devem preferencialmente permanecer em ensino à distância.

De fato, o retorno às atividades escolares é um desafio, especialmente em um país com recursos limitados. No entanto, para muitas crianças, principalmente aquelas em situações precárias ou áreas de risco, o retorno à escola pode trazer benefícios significativos, como melhor nutrição, redução da depressão e ansiedade e maior aprendizado.

Cada município, escola e família deve avaliar a situação local e tomar decisões conscientes, buscando sempre o melhor para a comunidade e garantindo a segurança e o bem-estar de todos os envolvidos.

 

Testes de triagem neonatal.

A implementação dos testes de triagem neonatal no SUS (Sistema Único de Saúde) em 1992 foi realmente um grande avanço no cuidado das crianças recém-nascidas no Brasil. Essa triagem, também conhecida como “Teste do Pezinho”, é fundamental para a detecção precoce de diversas doenças genéticas e metabólicas que podem não apresentar sintomas imediatamente após o nascimento, mas que podem levar a complicações graves se não forem tratadas precocemente.

Inicialmente, o programa de triagem neonatal abrangia apenas dois testes: Fenilcetonúria e Hipotireoidismo congênito. Com o passar dos anos, o programa foi ampliado e atualmente inclui outros testes importantes:

  1. Teste do Coraçãozinho: Avalia defeitos cardíacos congênitos, permitindo intervenções precoces caso sejam detectadas anomalias.
  2. Teste do Olhinho: Avalia problemas oculares, como infecções congênitas, catarata, glaucoma e tumores oculares.
  3. Teste da Orelhinha: Verifica a audição do recém-nascido, permitindo o diagnóstico precoce de problemas auditivos.
  4. Teste da Linguinha: Avalia a possibilidade de “língua presa” (anquiloglossia), que pode afetar a amamentação e a fala do bebê.
  5. Teste do Pezinho: Realizado entre o terceiro e o quinto dia de vida do bebê, detecta diversas doenças metabólicas e genéticas, como fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, anemia falciforme, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase.

Esses testes são essenciais para o diagnóstico precoce de doenças que podem não ser aparentes no nascimento, mas que podem ter graves consequências se não forem tratadas a tempo. A triagem neonatal é uma ferramenta valiosa para garantir que as crianças recebam o tratamento adequado o mais cedo possível, prevenindo complicações e garantindo um desenvolvimento saudável.

Atualmente, existe uma luta para ampliar ainda mais o Teste do Pezinho no SUS, incluindo o chamado “Teste do Pezinho Ampliado”, que pode identificar um maior número de doenças na criança. Essa campanha busca garantir que todas as crianças tenham acesso a essa importante triagem, independentemente de sua condição socioeconômica.

Participar e apoiar essa campanha é uma maneira de contribuir para a saúde e o bem-estar das crianças brasileiras, garantindo que elas tenham a oportunidade de receber o diagnóstico e o tratamento adequado desde o início de suas vidas. O acesso igualitário a exames de triagem neonatal é fundamental para a promoção da saúde infantil em nosso país.